Aula, de Roland Barthes
Aula, de Roland Barthes
Começo essa resenha com um trecho do livro que tá martelando na
minha cabeça há dias, desde que o li: “Se, por não sei que excesso do
socialismo ou de barbárie, todas as nossas disciplinas devessem ser expulsas do
ensino, exceto numa, é a disciplina literária que devia ser salva.”
Deixo claro de início que esse não é um livro de história,
se prepara que por uma hora e cinquenta você vai receber uma Aula.
“Mas por que eu gastaria meu
precioso pouco tempo de leitura que tenho no dia pra ler um texto
t-e-ó-r-i-c-o?” Caros leitores viciados e prezadas leitoras devoradoras de
livros, primeiro que isso aqui não é colégio e vocês não são obrigados a nada.
A vida segue no modo “easy” até você tomar a pílula vermelha. Qualquer coisa
sempre tem a famosa opção de ignorar esse livro e ligar a tv que tá passando a
novela das seis agora.
Caso ainda esteja aqui, te
apresento a pílula vermelha. Esse livro se trata do texto da aula inaugural da
cadeira de Semiologia Literária lido por Roland Barthes no Colégio de França em
1977 (fim da cópia descarada da contracapa). Nele, apesar de pequeno – falei
anteriormente das uma hora e cinquenta de aula porque é isso mesmo, o ensaio e
o posfácio têm no total menos de cem páginas de letras grandes -, Barthes expôs
alguns de seus princípios mais intensos e radicais (não é por acaso que tanta
gente o tem como livro de cabeceira).
Entrando no assunto conteúdo
real agora: Barthes expõe e desconstrói alguns fatores da linguagem,
principalmente a noção de autoridade apenas no discurso de porta-vozes do
Sistema. Ou seja, enquanto você escritor é mestre das palavras e as escolhe
cuidadosamente (ou não), é também seu servo, já que elas ditam o modo como você
diz, o que você diz e o que te motivou a dizer. Isso quer dizer que você, Dr.
Cal Lightman das palavras, ao analisar um discurso qualquer que seja consegue
ir muito além da superfície do que é dito.
Como dito, além de expôr a
língua fascista (“o fascismo não é impedir de dizer, é obrigar a dizer” vide
parágrafo anterior), Barthes diz que a única forma de trapacear os discursos de
poder é a literatura. E é isso que ele faz durante todo o seu texto, ao
utilizar o que ele chama de deslocamentos: ele brinca com as palavras e seus
significados, usa termos científicos em contextos informais e desloca a
definição de certas palavras tornando o seu discurso inesperado.
Claro que 400 palavras não são
suficientes para resumir nem metade do conteúdo de Aula, e Barthes
vai muito além do que aqui foi dito. Quanto a mim, pretendo ler esse livro mais
algumas vezes, além de outras obras teóricas do semiólogo.
Resenha feita por Almir Leandro
Resenha feita por Almir Leandro
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