Os transparentes - Ondjak
Resenha: “Os transparentes” de Ondjak
Gosto da linguagem poética encontrada nos livros de Ondjaki. Nossa língua usada por ele se veste de roupa nova com inesperadas figuras de linguagem, sutil delicadeza e delicioso sotaque angolano. Isso aconteceu tanto nas duas obras que li anteriormente, Os da minha rua e Bom dia, camaradas, como agora na leitura de Os transparentes. É inegável o poder sedutor da voz narrativa do autor. Além disso, Os transparentes tem dívidas a pagar com a obra de Gabriel Garcia Marquez, se não ao autor colombiano, certamente ao realismo mágico que caracterizou toda uma geração de escritores sul-americanos.
Esta é a história da sociedade de Luanda pós-independência. É uma delação. Mostra os erros, excessos e abusos no sistema político implantado. Francamente, não mostra nenhum benefício. Para retratar essa realidade, Ondjaki nos apresenta a um edifício de sete andares, no centro de Luanda, que exerce o papel de espinha dorsal da narrativa, pois é lugar de residência de grande parte dos personagens. A ação se dá dentro e fora do edifício e compreende um grande número de tipos. Muitos deles são identificados por cognomes ou nomes curiosos como Amarelinha, AvóKunjikise e MariaComForça. Alguns o são pelas características de um grupo de pessoas de uma classe social, como O Cego, (que representa os deficientes) O VendedorDeConchas (pequeno comerciante)e O Carteiro (faz as vezes daqueles bem intencionados que trabalham para o governo). Mas o personagem principal leva um nome comum, Odonato, talvez para justificar a consequência incomum de sua condição: começa a ficar transparente. Essa habilidade, no entanto, só existe para as pessoas simples, sem qualquer poder de afetar ou resolver seus destinos. Na Luanda pós-independência, as pessoas podem se tornar transparentes pela fome, pobreza e desemprego.
https://peregrinacultural.wordpress.com/2017/08/31/resenha-os-transparentes-de-ondjaki/
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